5 anos
Parece que foi ontem, e estranhamente há imensos detalhes que já não consigo lembrar-me... não me lembro se estava sol ou se chovia... não me lembro das pessoas com quem falei... não me lembro bem de quem lá estava na sala de espera enquando decidiamos coisas irrelevantes como caixão e coroa de flores...
Lembro-me que o senhor da funerária tinha um catalogo e de ter achado aquilo super sofisticado. Lembro-me de ligar à minha Mãe e pedir-lhe que fosse ter com a tia Mela para não estar sozinha. Lembro-me de ligar ao P. e de ele se meter no 2º avião que havia para Lisboa, porque o primeiro era de uma companhia estranha e aquilo ainda caia a caminho...
Lembro-me de adormecer a chorar nessa noite. E de pensar na quantidade de coisas que não tinha lhe dito, que não tinhamos feito juntos.
E, de todas as coisas que penso sempre que penso no Pai, estas duas - o que não disse e o que não fiz - são por vezes as que mais me "pesam"... mesmo sabendo que se calhar até fui das que mais disse e mais fiz com ele, de todos os manos.
As nossas viagens à procura de adegas para comprar bom vinho. Os almoços semanais para por a conversa em dia. Aquela viagem a Espanha depois de eu ter desfeito o noivado aos 21 anos. A tarte de limão que se fazia com bolachas Maria mas que ele fez com estrelitas porque era o que havia (escusado será dizer que ninguém comeu aquilo!). As histórias de Coimbra, de Africa e de Timor...
E de repente percebo que tive imensa sorte, que afinal aproveitámos imenso, e que, apesar dos últimos meses que foram maus, e da quantidade de dores de cabeça que temos para resolver, estou cheia de boas memórias dele que me vão dar força para tudo o que é preciso e que afinal me enchem o coração de saudade misturada com a certeza de que aproveitei muito o pai que tive.
5 anos passam a correr. Mas as coisas boas ficam para sempre.
Miss u daddy, everyday...